"Estamos aqui pela Humanidade!" Comuna de Paris, 1871 - "Sejamos realistas, exijamos o impossível." Maio de 68

R. Hermilo Alves, 290, Santa Tereza, CEP: 31010-070 - Belo Horizonte/MG (Ônibus: 9103, 9210 - Metrô: Estação Sta. Efigênia). Contato: institutohelenagreco@gmail.com

Reuniões abertas aos sábados, às 16H - militância desde 2003.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

CARTA ABERTA À COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE/ BELO HORIZONTE, 22 DE OUTUBRO DE 2012

Ass.: Coletivo pela construção de uma Frente Independente pela  Memória, Verdade e Justiça-MG
( Participação de ex-presos políticos, familiares de mortos e desaparecidos, militantes, apoiadores, entidades , movimentos populares, sociais e políticos).
DISTRIBUÍDA  E  LIDA NA AUDIÊNCIA "PÚBLICA" DA
COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE  REALIZADA NA UFMG.


Carta aberta à Comissão Nacional da Verdade

Belo Horizonte, 22 de outubro de 2012

            Nesta primeira audiência pública da Comissão Nacional da Verdade /CNV, em Minas Gerais, nós, do coletivo pela construção de uma Frente Independente pela Memória,Verdade e Justiça-MG, vimos a público manifestar nossa posição crítica em relação à concepção que fundamenta encaminhamentos que consideramos insatisfatórios, antidemocráticos e equivocados. Abordaremos questões que constituem algumas das nossas exigências. Estamos convencidos da legitimidade da explicitação do dissenso neste fórum – é para isto, afinal, que servem as audiências públicas. Antes de mais nada, porém, saudamos os companheiros e companheiras que aqui deram o seu testemunho de luta contra a ditadura militar e prestamos nossa homenagem a todas e todos que combateram e tombaram por ousar acreditar no sonho de uma sociedade igualitária, sem opressores e oprimidos.
Esclarecemos que nosso coletivo se formou a partir de atividades - manifestações, debates, intervenções, reuniões - realizadas com a participação de ex-presos políticos, familiares de mortos e desaparecidos, militantes, apoiadores, entidades , movimentos populares, sociais e políticos. O que nos une é o entendimento de que Verdade e Justiça são irredutíveis e que, ao contrário, verdade e reconciliação são termos excludentes: repudiamos, portanto, este binômio. Constatamos com indignação que o Estado brasileiro continua a deter gigantesco arsenal para o exercício da violência, acumulado em processo histórico de longa duração e consolidado nos vinte e um anos de ditadura militar sangrenta  e nestes 27 anos de transição conservadora. O aparelho repressivo tentacular, então montado, segue operando  a partir da violência explícita:  o Estado Penal vigente é o sucessor  do Estado de Segurança Nacional – implantado pela ditadura militar.
     É este o terrível legado da ditadura que institucionalizou a tortura, transformando-a em política de Estado. Institucionalizou também a cultura do sigilo, a fabricação do esquecimento, a destruição continuada do espaço público e a criminalização do dissenso. Tal legado continua em vigor, como mostram as seguintes evidências: a permanência da tortura e do aparato repressivo; a proibição do acesso aos arquivos da repressão; a guerra generalizada contra os pobres; a criminalização dos movimentos populares; a não solução da questão dos mortos e desaparecidos políticos; a impunidade dos torturadores e assassinos de presos políticos e daqueles que cometem os mesmos crimes nos dias de hoje. Permanecem  no poder – no legislativo, executivo, judiciário e na burocracia universitária - muitos daqueles que articularam o golpe e foram protagonistas ativos da ditadura militar. Continuam em vigor as estruturas de dominação próprias de um Estado de exceção permanente, potencializadas pelo totalitarismo do mercado.
    Ainda não conquistamos o direito à verdade, à memória e à história, o que passa necessariamente pela construção de uma Comissão de Verdade e Justiça independente e popular. Consideramos inaceitável a Comissão Nacional da Verdade que exclui a Justiça, cuja efetividade foi comprometida desde o Projeto de Lei 7376, de 20 de maio de 2010. A Comissão da Verdade sem Justiça, instaurada pela lei 12 528, de 18 de novembro de 2011, expressa a concepção conservadora do governo, de sua base aliada e do conjunto dos parlamentares. Trata-se de interdição do debate público e de fidelidade ao compromisso imposto pelas forças armadas e pelos empresários que articularam e sustentaram a ditadura militar: a sua essência é constituída pela manutenção da impunidade – ou melhor, da inimputabilidade - dos torturadores e assassinos de opositores e pela consolidação de uma cultura da conciliação. A tortura e a estratégia do esquecimento se mantêm, assim, como duas das instituições mais sólidas do país.
A seguir, nossos questionamentos mais pontuais relativos aos encaminhamentos da CNV e a esta audiência pública, que é a primeira aqui em MG – não sabemos quando será a próxima ou se haverá uma próxima:
·         Parece ter havido hierarquização, institucionalização e elitização inaceitáveis. Esta audiência, denominada “pública”, não foi amplamente divulgada nem mesmo entre os que foram atingidos pela repressão no âmbito das universidades mineiras, sejam alunos, funcionários ou professores e respectivos familiares. Muitos daqueles diretamente interessados não foram sequer informados da realização deste evento.
·         A agenda da CNV nestes dois dias  de estada em BH privilegiou a academia, corporações profissionais e visita a projeto de pesquisa. Tudo isto em detrimento da abertura de interlocução com os familiares de mortos e desaparecidos políticos, os ex-presos políticos, a militância estudantil e os movimentos populares, que foram alijados do processo.  Tem sido esta a tendência da CNV.
·         Predominaram a cultura do sigilo, as reuniões fechadas, a falta de transparência e de clareza quanto aos critérios de escolha do tema e da implementação dos trabalhos.
·          Este formato – audiência pública “temática” com caráter de evento - inviabilizou até mesmo o início da discussão de questões que consideramos candentes como: localização dos cemitérios clandestinos mineiros; a questão dos desaparecidos políticos; obstáculos interpostos ao acesso aos arquivos da repressão – todos eles; limitações e lacunas inaceitáveis quanto aos arquivos do DOPS, que já estão sob a guarda do Arquivo Público Mineiro; a transformação dos centros de tortura (com destaque para o antigo DOPS) em lugares de memória, na perspectiva daqueles que combateram e foram vítimas do terror de Estado; a problematização do questionável Memorial da Anistia, também articulado na cúpula do poder executivo e da burocracia universitária.
        Reiteramos que temos como questão de princípio a responsabilização e punição de todos aqueles que cometeram crimes contra a humanidade. O Estado brasileiro foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, em 14 de dezembro de 2010, exatamente pela prática destes crimes, tendo sido considerado culpado pelo extermínio dos guerrilheiros do Araguaia. A Corte Interamericana dos Direitos Humanos determinou que os restos mortais destes companheiros sejam devolvidos às famílias e que os responsáveis sejam punidos, assim como todos que praticaram crimes semelhantes durante a ditadura. Determinou também que os arquivos da ditadura sejam abertos, que sejam removidos todos os obstáculos para a punição dos responsáveis pelas torturas, mortes e desaparecimentos e que a sociedade brasileira tenha, finalmente, acesso à sua própria história.    Até agora, nada foi feito no que se refere ao cumprimento da sentença. 

 Sabemos que somente o combate da classe trabalhadora e do movimento popular terá condições de erradicar de vez esta herança da ditadura militar. A única maneira de reverter esta situação de barbárie é o fortalecimento da nossa luta com radicalidade, unidade e horizontalidade.

Por outra Comissão da Verdade que faça Justiça,que seja independente e de controle popular!
Pelo cumprimento da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que condenou o Estado brasileiro a resolver a questão dos mortos e desaparecidos políticos!
Pela abertura irrestrita dos arquivos da repressão!
Pela punição dos torturadores e assassinos de opositores durante a ditadura militar!
Pela erradicação da tortura e pelo desmantelamento do aparato repressivo!
Abaixo a repressão! Abaixo as UPPs e invasões policiais e militares dos morros, universidades, ocupações e favelas!
Pelo fim do genocídio dos jovens, negros, indígenas e pobres!
Pelo fim da criminalização dos pobres, dos movimentos populares e da luta política!
Ass.: Coletivo pela construção de uma Frente Independente pela Memória, Verdade e Justiça-MG
Convidamos todas e todos para a reunião de construção de uma Frente Independente pela Verdade, Memória e Justiça-MG:
Segunda-feira, dia 22 de outubro de 2012  /  Local : IHG - Rua Hermilo Alves, 290, Santa Tereza, BH/MG



domingo, 7 de outubro de 2012

AGRESSÃO QUE PAULA SOFREU DE GUSTAVO OLIVEIRA - VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E MACHISMO

SOBRE A AGRESSÃO QUE PAULA SOFREU DE GUSTAVO OLIVEIRA - do Nieu Dieu Nieu Maitre, uma nota a respeito

Provavelmente o que menos importa agora é a posição em que uma banda fica após a explosão duma notícia dessas.
Por isso, deixemos isso esclarecido logo. Igual a muitas outras bandas e projetos diversos, estivemos em contato com a pessoa do Gustavo.Tocamos juntos, nos hospedamos na Ocupação J13 por duas vezes e o Augusto Miranda, ainda mais uma vez, individualmente. E Igual a muitas outras pessoas, para nós, essa figura está morta enquanto ser humano digno.
Igual a muitas outras pessoas, serão destruídos imediatamente todos os CD's , camisetas, patches e seja lá mais o que for que carregue atrelada a si a imagem dele.
Isso não se aplica a seus companheiros de projetos enquanto eles mantiverem a postura de também repudiarem a pessoa do Gustavo.

Não é hora de bobagens do tipo 'perdão', 'acreditar em sua regeneração', não é hora de 'analisarmos melhor...' - É hora de praticar nem que seja um pouco do que temos tanto falado.
É hora dessa figura ser subtraída de sua liberdade em meio à sociedade (Preso sim, se essa é a vontade de quem foi agredida, não importa agora se discordamos ou não da eficácia disso/do sistema penitenciário... E quem discorda de que, pergunte à agredida e seus queridos o que ela e eles pensam disso...), antes que mais alguma merda se propague e que essa punição e tratamento seja exemplo a 'possíveis' outros casos.
É hora de voltarmos nossos olhares para a pessoa mais implicada nessa questão, Paula.
E feito uma banda composta unicamente por homens, entendemos, aceitamos e concordamos com as notas públicas a respeito das porras das "cenas" hardcore, ou punk, ou metal ainda que nessas pelo gênero estejamos implicados. Mas quanto a possíveis associações com Gustavo, isso nos enojou. Não conseguimos prever, nem mesmo a respeito das inúmeras picuinhas menores, anteriores, referentes a ele, já que somos de estados diferentes e tentávamos estar atentos mais ao que seja construtivo. Pecamos em não analisar mais de perto a essas pequenas evidências, em não perceber que as histórias 'negativas' podem ser extremamente construtivas... É fundamental que nos esforcemos para não adotar uma postura de complacência com alguém rondado por esses tipos de episódios, como foi o caso, e importantíssimo que as mulheres sejam mais ouvidas para que acontecimentos como esse não sejam ignorados.

Nos deparamos com uma enxurrada de indignação sempre focando questões de cena, focando a pessoa do Gustavo... E bem pouco - não tanto quanto o devido - na pessoa da Paula...
É um momento duma superexposição que, cremos, merece apoio, proteção, conforto, uma cobertura válida, substancial, indiferente de que tipo de projeto se participe... De modo sincero confessamos bem envergonhados, nem sabemos por onde começar, mas queremos apoiar esse tipo de ação AGORA! Ir além do mero cumprimento de justiça quanto ao Gustavo e entrarmos no delicado campo da reparação do dano causado à Paula, em todas os sentidos implicados. E não esperamos suavização alguma quanto ao fato de sermos todos do sexo masculino nesse grupo musical. Continuamos cientes de que séculos de violenta história patriarcal reservou um espaço extremamente "confortável" para qualquer um do sexo masculino e isso nos inclui.

O QUE PODE SER FEITO - AGORA - PELA PAULA?
O QUE PODE SER FEITO - AGORA - CONTRA O MACHISMO?

[ O Mito da Caverna ]
http://bastademachismo.blogspot.com.br/
(confira e divulgue)!!!

Todxs concordam, isto está prestes a explodir!

Na manhã do dia 05/11/2012 nos deparamos com uma notícia, que sob vários aspectos reflete o quadro miserável da vida cotidiana sob a civilização heterocapitalista: um corpo biopolíticamente associado ao gênero mulher foi agredida por um ex-companheiro. Entretanto, não foi uma agressão qualquer, em primeiro lugar porque conhecíamos intimamente o agressor. “Treta-se” de Gustavo Oliveira (xGustavinhox - Nieu Dieu Nieu Maitre e Holodomor, MPL-PR e CMI-PR, Ocupação Social J13), um atual ex-companheiro de lutas de  longa data (nem tão longa assim). Outro aspecto importante para nos atermos é que trata-se de uma agressão feita por uma auto-proclamado anarquista. Isso serve, antes de mais nada, para nos chamar atenção de que as identidades (mesmo as mais radicais) podem servir para mascarar assimetrias de poder, esconder os lugares de fala, mais do que se posicionar frente a uma situação. As famosas “carteiradas” (“Mas eu sou anarquista”, “Que nada, elx é queer”), são, muitas vezes, a materialização tragicômica de uma covardia política, que esconde o seu medo e seus autoritarismos atrás de uma pretensa tradição política respaldada. A questão que Michel Foucault traz, pulveriza essa prática tacanha, ao colocar a dimensão das práticas (cotidianas) à tona e ao explicitar os papeis potencialmente covardes das identidades: “Como fazer para não se tornar um fascista, mesmo quando (sobretudo quando) se crê ser um militante revolucionário?”

Devemos tirar também algumas lições dessa situação lamentável. Algo que ficou bem claro aqui, é que algumas formas de autoritarismo não passam pelo crivo sagrado da esquerda: o econômico. Simplesmente substituir o modo-de-produção capitalista e o Estado pela Autogestão e Socialismo Libertário, respectivamente, não é o suficiente. Aheterossexualidade como regime político nos mostra isso, ao criar mais um algoz e uma sobrevivente. Trata-se aqui da ordem da produção de desejos, das subjetividades e das relações cotidianas: é exatamente aqui que começa também a resistência!

E mais, não devemos encarar isso como um ato de “um monstro”, um “surto psicótico” e muito menos como uma “briga de casal”, isoladas no espaço-tempo, entre uma vida relativamente serena. Aqueles que agridem companheirxs ou os que estupram mulheres ou espancam travestis e homossexuais não são “monstros” que “surtaram”, são um fruto ‘normal’ e previsível de uma sociedade que produz e regula - normatizando, normalizando, patologizando, marginalizando e excluindo - performances de gênero que reproduzem padrões binários de masculinidade e feminilidade e de heterossexualidade, em outras palavras, são fruto da heterossexualidade como regime político. Podem ser o seu vizinho, o seu pai, a sua chefe, ou mesmo seu companheiro de coletivo.


Em primeiro lugar, queremos aqui, mesmo que através das mediações tecnológicas e simbólicas (com todas suas friezas e contradições), prestar solidariedades e apoio x companheirx Paula. Imaginamos (sim, não temos a falsa pretensão de se colocar no lugar de umx sobrevivente. Somente elx sabe o que passou!) o quão difícil deve ser ter de lidar com esse tipo de situação. Vergonha e medo da reação de parentes, amigxs ou mesmo da polícia, ao fazer o B.O. (Aliás, lidar com a polícia em si, já é um caso a parte). Ter de se explicar a todo momento, já que a Cultura de Estupro faz um verdadeiro escárnio dx sobrevivente: colocando sempre em cheque a veracidade de seu discurso. Ter de lidar com possível represálias e etc.


Sabemos que estamos distantes subjetiva e geograficamente, entretanto, achamos necessário mostrar que, mesmo que minimamente, estamos dispostxs a ajudar, nem que com palavras; aliás, não negamos o poder das palavras, ainda mais numa sociedade onde as pessoas parecem não compactuar de uma linguagem comum. Falamos aqui, a linguagem dxs subalternxs, excluidxs, submetidxs, espancadxs, ridicularizadxs, desacreditadxs; a linguagem que combate a heterossexualidade como regime político (e todas as formas de dominação e assujeitamento) no cotidiano; a linguagem da solidariedade e do apoio; falamos uma linguagem menor. 


Mais preocupados com o falatório do que com qualquer outra coisa, os R2-D2 lançam-se, acotovelando-se para ver quem dá o comentário mais ácido pelos seus Blueberrys: “Quero ver o que os amigos dele vão dizer agora!” “Eu sabia, ele sempre foi um babaca”. Parece que a preocupação em apoiar x sobrevivente e a responsabilização do agressor é só um mero acaso, um detalhe que se responde assim que alguém te chama atenção no mural do Fachobuk. E xs oportunistas também aparecem nessa hora: todxs querem ser xs bastiões do Apoio. Existem até aqueles que fecham os olhos para agressões que acontecem ao seu lado, com amigos agredindo suas namoradas, mas que agora, quando é em outra cidade, outro estado, não perdem tempo em prestar sua “solidariedade” e denunciar o agressor! O falatório, assim como o oportunismo é um fenômeno pequeno-burguês, como diria Walter Benjamim, e héterocapitalista, acrescentaríamos nós. Ele não fomenta discussões, não gera apoio e nem oferece soluções, somente garante diversão pra classe média branca, cis e heterossexual e exatamente por isso deve ser combatido!


É extremamente necessário que nesses momentos, nos foquemos no apoio x sobrevivente. Sua palavra tem de ser – acima de qualquer coisa – encarada como verdade, se queremos de fato escapar das reterritorializações da Cultura de Estupro. Apoio psicológico, subjetivo e afetivo é essencial para a sobrevivente e todos os meios são encorajados (especialmente por parte de amigxs): carinhos, telefonemas, cartas, acompanhar em idas a delegacia ou passeios para relaxar, até mesmo presentear com spray de pimenta e facas etc. Aquelxs que estão próximos do agressor devem tratar de responsabiliza-lo e esse processo de responsabilização é amplo e demorado. Fazer o agressor, em primeiro lugar, compreender as consequências materiais que sua agressão heterossexista provocou nx sobrevivente e à sua volta é o primeiro passo. Daquelxs que não são próximos dx agressor a responsabilização vem de outras formas: denúncias, cartas abertas, escrachos, atos, até mesmo uma ação direta, dependendo do caso. Obviamente, se há alguma proximidade com a sobrevivente, é interessante que se consulte a opinião delx, para saber até que ponto elx concorda com os métodos e com o tipo de ação que será levada a cabo.

Não temos a pretensão nenhuma aqui. Somente sentimos a necessidade de expor nossa solidariedade e apoio para com x sobrevivente, fazer algumas reflexões mais gerais sobre o ocorrido e compartilhar alguns possíveis caminhos para ajudar a lidar com essa situação. É importante que pensemos como podemos ajudar afetiva e materialmente nesse tipo de situação. É preciso que pensemos em nossas relações cotidianas, e avaliemos se em alguma medida, estamos reproduzindo performances heterossexistas que levam a situações como essas, de modo que evitemos agressões como essas. É preciso que cuidemos de nós, de nossxs amigxs, companheirxs, de nossa comunidade e de nossa manada! “Nenhuma agressão ficará sem reposta”, mais do que um jargão empoderador, deve funcionar como um propulsionador político, que estimula ações concretas de apoio, responsabilização e de combate anti-heterossexista, aqui e agora!


Paula, conte conosco!!!

Heteronormais, nos vemos nas ruas...

"Sabemos que a violência misógina dentro do hardcore masculino é um problema praticamente insolúvel. A cena hardcore masculina não se posiciona contra a violência misógina dentro dos seus espaços porque violência misógina CONSTITUI a cena hardcore masculina. A cena hardcore masculina brasileira (e mundial) ODEIA todas as mulheres, a não ser as que bajulam meninos de bandas ou de organização de festivais. Pra essas são oferecidas migalhas de uma pseudo vivência cultural e política, uma figuração num ambiente hostil. O Dominatrix, banda que existe há 17 anos, enquanto projeto político que contesta o patriarcado e denuncia suas armadilhas, REJEITA as migalhas da cena hardcore masculina e todos os seus ideais. "Ideal" que não é posto em prática é armadilha, é disfarce. Mesmo os ideais "bem intencionados" aos olhos domesticados, se tornam castelos de areia quando um caso de violência acontece e todos se calam. Eu, Elisa Gargiulo, fundadora e vocalista da banda riot grrrl, punk, hardcore feminista Dominatrix me enojo com o caso relatado na denúncia abaixo e ofereço solidariedade a todas as mulheres que sofrem agressões misóginas.

Convido todxs a procurarem em eventos recentes as bandas que dividiram palcos com as bandas citadas no relato. Assista ao silêncio das mesmas sobre o ocorrido e entenda como se dá a manutenção de uma cena que não tem vergonha na cara."